Mais gestão, menos polarização Titulo Episódio das tarifas

Um grito!

Paulo Serra
13/07/2025 | 08:19
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Ilustração: Seri/DGABC
Ilustração: Seri/DGABC Diário do Grande ABC - Notícias e informações do Grande ABC: Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra


Tenho abordado aqui, semanalmente, o quanto a sobreposição da polarização sobre a boa gestão tem prejudicado a vida da nossa gente.

Na última semana, o nome desta coluna se tornou quase um grito de sobrevivência; isso porque a polarização política talvez tenha alcançado seu grau mais nocivo ao País com o episódio das tarifas impostas pelos EUA aos produtos brasileiros.

Diferentemente da maioria das reações que politizaram ainda mais o tema, prefiro racionalizar a análise com equilíbrio – e, acima de tudo, com propostas. Como? Com mais gestão e menos polarização!

Então, no último dia 9 de julho, os EUA anunciaram tarifas de 50% sobre produtos brasileiros como café, carne, laranja e cobre, com justificativas políticas. Mas vamos à vida real: o impacto é direto no bolso do cidadão e na estabilidade da economia.

O que isso significa para o Brasil?

. Aumento drástico nos custos de exportação

O Brasil é, por exemplo, líder mundial em produção de café arábica. Com as tarifas, o preço futuro disparou, o real desvalorizou e produtores estão pressionados.

 Crise diplomática

O governo federal reagiu convocando a Embaixada dos EUA e acionando a Lei de Reciprocidade Comercial, ampliando a tensão.

. Reflexos internos

A instabilidade cambial e a perda de mercado geram impactos no setor produtivo, nos preços e na geração de empregos.

O fator polarização

Essa crise não é apenas fruto de uma decisão externa. Ela é alimentada pelas narrativas extremadas que dominam a política nacional.

De um lado, há quem veja perseguição política e peça apoio internacional. De outro, há a ênfase em soberania e repúdio a qualquer influência externa.

Essa disputa interna transbordou para o campo diplomático e comercial, provocando insegurança e desconfiança em relação ao Brasil no Exterior.


Por que isso é grave?

A segurança jurídica enfraquece, e decisões econômicas passam a seguir a lógica eleitoral, não técnica.

Exportadores perdem mercado, e o País perde divisas, investimentos e empregos.

A imagem internacional se deteriora, e o Brasil é visto como instável e imprevisível.

Quem paga a conta? O cidadão comum, que sente o dólar mais caro, os preços dos produtos mais altos e o emprego mais distante.

Caminhos para sair da crise

É possível reagir com equilíbrio e responsabilidade, adotando medidas concretas:

1Reativar o diálogo com os EUA

O Itamaraty precisa liderar uma diplomacia técnica, afastada de disputas ideológicas, buscando interlocução direta com lideranças norte-americanas.

2. Acionar a OMC

Recorrer à Organização Mundial do Comércio reforça o compromisso com regras internacionais e ajuda a tirar o tema do campo político.

3. Diversificar mercados

Apostar em novos acordos com Europa, Ásia e África pode reduzir a dependência dos EUA e abrir novas oportunidades.

4. Coordenação público-privada

É preciso envolver o setor produtivo na construção de alternativas logísticas, compensações e estratégias de curto prazo.

5. Blindar a política externa da polarização

A diplomacia deve ser política de Estado, não de governo. O Brasil precisa voltar a ser visto como parceiro confiável e previsível.

Conclusão: ampliar diálogo + diminuir “gritos” = menos prejuízo.

O tarifaço imposto pelos EUA é, sim, uma reação desproporcional, mas também um reflexo da imagem fraturada que o Brasil tem projetado ao mundo. Quando líderes políticos transformam o País em um palco de confronto permanente, os efeitos extrapolam a política e atingem em cheio a economia, os empregos e a estabilidade nacional.

O Brasil precisa urgentemente blindar sua política externa das batalhas eleitorais internas. É hora de resgatar o profissionalismo diplomático, investir em previsibilidade institucional e reconstruir pontes com parceiros estratégicos – sem ruídos ideológicos e sem revanchismo.

Mas também é hora de aprendermos a lição: não se combate um tarifaço com trincheiras retóricas, nem com discursos inflamados, e muito menos com o silêncio pragmático do “deixa como está”. Combate-se com planejamento, diálogo, unidade, visão de futuro e, acima de tudo, gestão.

É esse o caminho que proponho semana após semana: Mais Gestão, Menos Polarização. Agora, mais do que nunca, esse não é apenas o nome desta coluna. É uma urgência nacional.




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