Episódio das tarifas Tenho abordado aqui, semanalmente, o quanto a sobreposição da polarização sobre a boa gestão tem prejudicado a vida da nossa gente.
Na última semana, o nome desta coluna se tornou quase um grito de sobrevivência; isso porque a polarização política talvez tenha alcançado seu grau mais nocivo ao País com o episódio das tarifas impostas pelos EUA aos produtos brasileiros.
Diferentemente da maioria das reações que politizaram ainda mais o tema, prefiro racionalizar a análise com equilíbrio – e, acima de tudo, com propostas. Como? Com mais gestão e menos polarização!
Então, no último dia 9 de julho, os EUA anunciaram tarifas de 50% sobre produtos brasileiros como café, carne, laranja e cobre, com justificativas políticas. Mas vamos à vida real: o impacto é direto no bolso do cidadão e na estabilidade da economia.
O que isso significa para o Brasil?
. Aumento drástico nos custos de exportação
O Brasil é, por exemplo, líder mundial em produção de café arábica. Com as tarifas, o preço futuro disparou, o real desvalorizou e produtores estão pressionados.
Crise diplomática
O governo federal reagiu convocando a Embaixada dos EUA e acionando a Lei de Reciprocidade Comercial, ampliando a tensão.
. Reflexos internos
A instabilidade cambial e a perda de mercado geram impactos no setor produtivo, nos preços e na geração de empregos.
O fator polarização
Essa crise não é apenas fruto de uma decisão externa. Ela é alimentada pelas narrativas extremadas que dominam a política nacional.
De um lado, há quem veja perseguição política e peça apoio internacional. De outro, há a ênfase em soberania e repúdio a qualquer influência externa.
Essa disputa interna transbordou para o campo diplomático e comercial, provocando insegurança e desconfiança em relação ao Brasil no Exterior.
Por que isso é grave?
A segurança jurídica enfraquece, e decisões econômicas passam a seguir a lógica eleitoral, não técnica.
Exportadores perdem mercado, e o País perde divisas, investimentos e empregos.
A imagem internacional se deteriora, e o Brasil é visto como instável e imprevisível.
Quem paga a conta? O cidadão comum, que sente o dólar mais caro, os preços dos produtos mais altos e o emprego mais distante.
Caminhos para sair da crise
É possível reagir com equilíbrio e responsabilidade, adotando medidas concretas:
1Reativar o diálogo com os EUA
O Itamaraty precisa liderar uma diplomacia técnica, afastada de disputas ideológicas, buscando interlocução direta com lideranças norte-americanas.
2. Acionar a OMC
Recorrer à Organização Mundial do Comércio reforça o compromisso com regras internacionais e ajuda a tirar o tema do campo político.
3. Diversificar mercados
Apostar em novos acordos com Europa, Ásia e África pode reduzir a dependência dos EUA e abrir novas oportunidades.
4. Coordenação público-privada
É preciso envolver o setor produtivo na construção de alternativas logísticas, compensações e estratégias de curto prazo.
5. Blindar a política externa da polarização
A diplomacia deve ser política de Estado, não de governo. O Brasil precisa voltar a ser visto como parceiro confiável e previsível.
Conclusão: ampliar diálogo + diminuir “gritos” = menos prejuízo.
O tarifaço imposto pelos EUA é, sim, uma reação desproporcional, mas também um reflexo da imagem fraturada que o Brasil tem projetado ao mundo. Quando líderes políticos transformam o País em um palco de confronto permanente, os efeitos extrapolam a política e atingem em cheio a economia, os empregos e a estabilidade nacional.
O Brasil precisa urgentemente blindar sua política externa das batalhas eleitorais internas. É hora de resgatar o profissionalismo diplomático, investir em previsibilidade institucional e reconstruir pontes com parceiros estratégicos – sem ruídos ideológicos e sem revanchismo.
Mas também é hora de aprendermos a lição: não se combate um tarifaço com trincheiras retóricas, nem com discursos inflamados, e muito menos com o silêncio pragmático do “deixa como está”. Combate-se com planejamento, diálogo, unidade, visão de futuro e, acima de tudo, gestão.
É esse o caminho que proponho semana após semana: Mais Gestão, Menos Polarização. Agora, mais do que nunca, esse não é apenas o nome desta coluna. É uma urgência nacional.
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