Literatura Miriam Gimenes afirmou que tinha perto de 9 anos quando imaginou o enredo que, décadas depois, transformaria no livro 'O Burro Inteligente'
FOTO: Claudinei Plaza/DGABC

As aparências enganam. Em uma bela fazenda, o marreco, o cavalo, o galo, a pomba, o cachorro e os passarinhos viviam a zombar do burro. Toda vez que ele se aproximava para conversar com outros animais, era tratado com deboche. Achavam que, por ter nascido burro, não servia para nada além de carregar mato e assustar o pato. Até que a vaca caiu em um buraco e, enquanto todos se desesperavam, o burrinho bolou um plano...
Bem, para saber o fim da história, é preciso ler O Burro Inteligente (Editora Urucuia, 56 páginas, R$ 49,90), livro que a jornalista andreense Miriam Gimenes lança no próximo sábado (13), a partir das 14h, na Casa da Palavra (Praça do Carmo, 171, Santo André). A obra é lindamente ilustrada por Luiz Carlos Fernandes, um artista bastante premiado que também publica seus desenhos no Diário.
Não dá para estragar a surpresa dos futuros leitores e revelar como terminou a aventura do resgate da vaca, mas é possível adiantar que o episódio comprova que ser verdadeiramente inteligente é entender que ninguém deve ser julgado pela aparência – isso se chama preconceito e é muito feio, além de ser crime.
O estudante Joaquim Terras Chiari, 7 anos, que mora em Santo André, foi um dos primeiros leitores de ''''O Burro Inteligente'''' e já aprendeu a lição. “Burro significa que a pessoa não é inteligente, mas eu vi que ele é sim o mais inteligente. E ainda bem, porque meu irmão vive me chamando de burro”, disse.
O burro, aliás, é o personagem de que Joaquim mais gostou na historinha, exatamente porque pensou em uma maneira engenhosa de socorrer a vaca, contando com a ajuda de todos e ensinando como é que se deve tratar os outros. “Quando a gente trabalha em grupo acontece o melhor. É muito errado a gente não acreditar nos amigos, como fizeram com o burrinho”, resumiu o estudante.
INSPIRAÇÃO
Miriam Gimenes recordou que tinha dois anos a mais que Joaquim quando imaginou o enredo que, décadas depois, transformaria em livro. “Quando eu era criança, redação era a minha aula preferida. Um dia, a professora pediu uma com tema livre. Não lembro a história que escrevi, mas o título que inventei – O Burro Inteligente – nunca mais saiu da minha cabeça”, rememorou a escritora e jornalista.
O texto original se perdeu. Até que um certo dia de 2016, quando Miriam trabalhava no Diário, enquanto buscava informações para escrever uma reportagem, ela se lembrou do burrinho. “Entre uma pauta e outra, me veio a inspiração e escrevi em pouco tempo os versos que compõem o livro. Acho que estava inspirada pelo fato de ter um filho ainda pequeno – o Lucas, que na época tinha 3 anos – e de ler muitos livros infantis para ele.”
Depois de escrever os versos, Miriam precisava de alguém que fizesse os desenhos do livro. Foi só olhar para a mesa ao lado da sua na redação do jornal. “Trabalhei por muitos anos no Diário com o Fernandes e, além de ser um gênio das ilustrações, ele é uma pessoa muito especial, um ser humano diferenciado, além de ser apaixonado por bichos – tanto que é vegetariano.”
Fernandes detalhou que, para dar formas e cores aos personagens, pesquisou várias imagens de animais – principalmente de burro. “Fiz vários esboços para chegar na arte-final. Fiz as ilustrações à lápis de cor e aquarela. O fundo, nuvens, foi feito separado e montado no computador”, afirmou o ilustrador, que também mora em Santo André.
Burro é um bicho muito perspicaz, capaz de resolver questões difíceis
Fake news. Mentira. É falso, fruto de uma comparação equivocada feita lá no passado, achar que os burros não são animais astutos. Assim como o protagonista de O Burro Inteligente, eles são capazes de solucionar problemas complexos, têm memória boa e conseguem aprender e memorizar informações.
“Não é correto chamar os burros de ‘burros’. Esse estigma surgiu por comparações injustas com cavalos e mulas em tarefas que não correspondiam às verdadeiras habilidades da espécie. O burro, na verdade, é o filhote do cruzamento entre o jumento e a égua. Já o jumento é o animal original, muito usado historicamente no trabalho do campo. Ambos são inteligentes, resistentes e cuidadosos”, explicou ao Diarinho o médico veterinário Jefferson Leite.
“Os burros têm memória excepcional e avaliam riscos antes de agir. Por isso, muitas vezes parecem teimosos, mas na verdade estão se protegendo. É um jeito próprio de inteligência, adaptado ao ambiente onde vivem. A ciência já mostrou que eles são sensíveis, aprendem bem e criam vínculos fortes. O que precisamos é rever esse preconceito cultural e enxergar os burros, e os jumentos também, com o respeito e admiração que merecem”, complementou o veterinário.
Responsável pelas imagens que aparecem todo dia no Diário, o editor de Fotografia do jornal, Claudinei Plaza, comprovou tudo o que o doutor Jefferson Leite falou sobre os animais. Para ilustrar esta reportagem do Diarinho, ele conheceu o Facebook, nome do burrinho que aparece aqui embaixo.
Plaza encontrou Facebook em São Bernardo, onde o animal vive. “A nossa ideia era fotografá-lo interagindo com o o Joaquim (Terras Chiari), que foi o primeiro leitor de O Burro Inteligente. Pensei que fôssemos ter alguma dificuldade para realizar as imagens, mas fiquei surpreso com a inteligência do Facebook, que posou para todas as fotos como um verdadeiro modelo ”, contou o fotógrafo. O resultado – belíssimo – pode ser conferido na capa do Diarinho. Corra lá para ver.
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