Coluna
Seri/DGABC

O Brasil convive, em 2025, com uma tragédia que poderia ter sido evitada: a intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas adulteradas. Casos já foram confirmados em São Paulo, Pernambuco e outros Estados, resultando em mortes, internações e sequelas irreversíveis em sobreviventes.
Segundo o Ministério da Saúde, ao menos 195 casos de intoxicação foram registrados em diferentes regiões do País, levando à criação de uma sala de monitoramento emergencial. Em São Paulo, 14 casos já foram confirmados, com daus mortes atestadas e outras em investigação. Em Pernambuco, dois óbitos foram associados à ingestão de bebidas adulteradas. Infelizmente, a lista de vítimas tende a aumentar, revelando a gravidade do problema.
O perigo invisível do metanol
O metanol (álcool metílico) é uma substância altamente tóxica, que pode ser confundida com o etanol (o álcool) comumente presente em bebidas. Incolor e de sabor suave, em pequenas doses já provoca danos devastadores: 10ml podem causar cegueira irreversível; 100ml podem ser fatais. No corpo humano, o metanol se transforma em formaldeído e ácido fórmico, atacando o sistema nervoso, a retina e os rins.
Os sintomas são insidiosos: começam com náusea, tontura e mal-estar, evoluindo para distúrbios visuais, confusão mental, coma e morte. Essa característica dificulta o diagnóstico precoce e torna a rápida intervenção médica fundamental.
Crise e falhas estruturais
Esse surto revela problemas antigos do Brasil: falhas de fiscalização, gestão frágil de órgãos reguladores e deslizes no controle das cadeias produtivas. Enquanto uma parte da sociedade e da política discute polarizações e disputas midiáticas, tragédias evitáveis ocorrem numa cena paralela.
1. Fiscalização e vigilância insuficientes
O papel das vigilâncias sanitárias estaduais e municipais deveria ser ativo e preventivo – inspecionar distribuidores, bares e fabricantes, recolher amostras suspeitas, verificar documentação e origem dos produtos. No caso atual, muitos lotes adulterados parecem ter circulado livremente antes de serem detectados. Alguns estabelecimentos foram interditados tardiamente: em São Paulo, já foram fechados bares como o Ministrão, além de outros na Capital e na Região Metropolitana.
2. Desestruturação das agências reguladoras
A Anvisa, agência responsável pela vigilância sanitária federal, deveria atuar como respaldo técnico, diagnóstico, normativo e de supervisão em casos como esse. Contudo, sua atuação depende da cooperação com diversos níveis de governo, dotação orçamentária e capacidade técnica local. Em muitos casos, fiscalização de bebidas alcoólicas adulteradas esbarra em falta de recursos, pessoal e atuação integrada com forças policiais e de inteligência.
3. Fragmentação institucional e ausência de coordenação
A crise do metanol mostra como a desarticulação entre esferas (federal, estaduais, municipais) e entre órgãos (saúde, polícia, fiscalização, órgãos reguladores) facilita que produtos ilícitos percorram circuitos obscuros até chegar ao consumidor final. A demora em montar uma “sala de situação” interministerial, após as primeiras denúncias, evidencia que o aparato estatal nem sempre está preparado para reagir com agilidade a emergências sanitárias.
4. Prioridades políticas desalinhadas
É chocante observar que, enquanto episódios como este se desenrolam, boa parte do debate público e legislativo se concentra em disputas simbólicas, retóricas ou identitárias. A agenda da tragédia com vidas perdidas, prevenção sanitária, fortalecimento institucional, acaba ficando à margem, ou só é respondida pela urgência quando já é tarde demais.
Lições e caminhos possíveis
Para evitar que episódios como este se repitam, é necessário priorizar a gestão pública em várias frentes:
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