Sabores & Saberes
FOTO: Fernandes

Inúmeros casos de intoxicação por metanol têm sido relatados nos últimos dias, estabelecendo crise sanitária de grande repercussão, com desencadeamento de muitas ações, ao tempo que surgem indagações.
O metanol é um álcool de estrutura assemelhada ao etanol que pode ter origem em componentes fósseis ou vegetais, ocorrendo ainda de forma natural na produção de bebidas alcoólicas, neste caso, se a técnica de fabricação for correta, as concentrações não impõem riscos à saúde.
Os altos níveis de metanol encontrados nestas bebidas impróprias para o consumo podem ter várias procedências, entre elas as destilarias clandestinas, que, sem cumprir com rigor as regras necessárias para a obtenção do destilado, não descartam os componentes nocivos oriundos do processo.
Em outra possibilidade, pode haver metanol residual utilizado na limpeza de garrafas vazias de rótulos famosos, as quais são preenchidas posteriormente com produto inferior ao original e vendidas a preços convidativos. É ainda possível que o metanol seja adicionado às bebidas na modulação da graduação alcoólica.
O fato de oferecer palatabilidade semelhante ao etanol faz com que não haja qualquer desconfiança no momento do consumo, mas à medida que a metabolização hepática do metanol se desenvolve, são produzidos formaldeído e ácido fórmico, compostos de extrema toxicidade e responsáveis pelos principais danos orgânicos.
Os nervos e retinas são as primeiras estruturas a sofrer com o potencial lesivo destas substâncias, notadamente do ácido fórmico, e entre 12 e 24 horas após a ingestão são comuns as queixas de confusão mental, visão borrada e sensibilidade à luz, habitualmente precedidas por náuseas e dor abdominal.
Sem intervenção terapêutica precoce, ocorrerá rápida perda visual que culminará com cegueira irreversível, enquanto o estado de acidose metabólica instalado por esta intoxicação pode deflagrar a falência de múltiplos órgãos e morte.
Neste momento, o melhor recurso de segurança é não ingerir bebidas alcoólicas, especialmente destilados, pois, além disso, identificar os sintomas deste envenenamento com precocidade e procurar um serviço médico de emergência são as únicas alternativas existentes para nos salvar a visão e eventualmente a vida.
Antonio Carlos do Nascimento é doutor em endocrinologia pela Faculdade de Medicina da USP e membro da Sociedade de Endocrinologia e Metabologia.
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