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FOTO: Vitaly Gariev/Unsplash

No Estado de São Paulo, o número de afastamentos do trabalho por questões de saúde mental passou de 79,1 mil, em 2023, para 131,8 mil no ano passado. Isso representa um aumento de 67% no número de licenças médicas concedidas.
Em todo o País, foram quase 500 mil afastamentos em 2024, aumento de 66% em relação ao ano anterior. Os dados são do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho e resultam em perda de produtividade, aumento de custos para as empresas e para o sistema de saúde.
Apesar da gravidade, a resposta institucional no Brasil tem sido insuficiente. A Lei nº 14.831/2024 que criou o Certificado de Empresa Promotora da Saúde Mental, até hoje não foi regulamentada e segue sem efeito prático. Já a NR-1 (Norma Regulamentadora nº 1), atualizada para incluir riscos psicossociais como assédio, estresse e sobrecarga na política de saúde e segurança do trabalho, teve sua entrada em vigor adiada para 2026. O recado transmitido foi claro: apesar dos números alarmantes, o tema não é tratado como prioridade.
Nesse contexto, os dados do Anuário Saúde Mental nas Empresas 2025, divulgado no Dia Mundial da Saúde Mental, celebrado hoje, ajudam a dimensionar a distância entre discurso e prática. O índice geral de promoção bem-estar pelas grandes companhias no Brasil passou de 5,05 pontos em 2024 para 8,19 neste ano. O crescimento foi puxado pelos resultados de um pequeno grupo de empresas que, efetivamente, transformam discurso em ações concretas. No entanto, em um ranking cuja pontuação máxima é 16, isso mostra que estamos muito aquém do ideal.
Ainda existe uma cultura empresarial que enxerga incompatibilidade entre aumentar a lucratividade e promover o bem-estar, mas é possível conjugar o bem-estar dos colaboradores com o retorno para os acionistas. Estudos demonstram o impacto positivo dos investimentos em saúde mental. Análises da McKinsey apontam retorno de até quatro vezes para cada dólar investido, o que é ratificado pela National Safety Council (EUA).
Mas, se investir em saúde mental vale a pena, devemos entender por que ainda predomina a hesitação em ampliar ações de promoção do bem-estar. A escuta verdadeira dos colaboradores exige coragem das lideranças, que passam a lidar com a subjetividade em um mundo guiado pela objetividade. Quando se abre esse espaço, não basta coletar informações: é necessário agir a partir delas. Avançamos em alguns pontos, mas ainda não temos motivos para comemorar. O Brasil não precisa apenas de novas leis ou normas, mas de regulamentações eficazes, fiscalização ativa e, sobretudo, lideranças dispostas a enxergar que saúde mental não é custo, e sim investimento estratégico.
Carlos Assis é editor do Anuário Saúde Mental nas Empresas e fundador do Instituto Philos Org.
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