Mais gestão, menos polarização
Gilmar

A concessão do Prêmio Nobel da Paz 2025 à líder da oposição venezuelana María Corina Machado é mais do que uma homenagem individual: é um recado forte e simbólico ao mundo. Em tempos de tensões políticas e retrocessos democráticos, reconhecer a trajetória de uma mulher que arriscou a própria liberdade para defender o direito de milhões é reafirmar que democracia e direitos humanos não são negociáveis.
Uma vida dedicada à resistência democrática
Engenheira de formação e ativista por vocação, María Corina Machado emergiu como uma das vozes mais firmes contra o autoritarismo na Venezuela. Atuou na sociedade civil, liderou o movimento oposicionista e enfrentou perseguições judiciais, ameaças e o exílio forçado. Mesmo impedida de concorrer às eleições presidenciais, tornou-se símbolo de uma luta que ultrapassa fronteiras: a luta pelo direito de escolher e ser ouvido.
Ao conceder-lhe o Nobel, o comitê reconheceu não apenas sua coragem individual, mas também a legitimidade das forças democráticas que resistem a regimes que oprimem, censuram e silenciam. A mensagem é clara: quem defende a liberdade não está sozinho.
O peso simbólico do Nobel
O Nobel da Paz tem uma força que vai além da diplomacia tradicional. Ele mobiliza consciências, pressiona governos e ilumina causas que regimes autoritários tentam esconder. No caso venezuelano, evidencia uma crise prolongada, marcada por violações de direitos, censura e migração forçada de milhões de cidadãos.
A reação do governo de Nicolás Maduro ao prêmio, com o anúncio de fechamento da embaixada na Noruega, só reforça o quanto o reconhecimento internacional incomoda quem teme a liberdade. Mas também reforça algo maior: a comunidade democrática global não aceita mais relativizar ditaduras sob pretextos ideológicos ou interesses circunstanciais.
A responsabilidade do Brasil
Esse momento impõe ao Brasil uma escolha clara. Como país que sempre buscou exercer liderança regional, é fundamental reconhecer oficialmente a importância do Nobel concedido a María Corina Machado. Não se trata de interferência em assuntos internos de um país vizinho, mas de afirmar valores universais: democracia, liberdade e direitos humanos.
Nos últimos anos, o Brasil, em diferentes governos, por vezes adotou uma postura ambígua diante de regimes autoritários. Mas o mundo de hoje não tolera mais neutralidade diante de violações democráticas. Reconhecer esse prêmio significa assumir lado: o lado da liberdade.
Mais gestão, menos polarização
Essa discussão também nos interpela internamente. Quando defendemos “mais gestão, menos polarização, mais diálogo”, falamos de uma forma de fazer política baseada em resultados, respeito institucional e construção de consensos. Não há gestão eficiente em ambientes de radicalismo permanente, assim como não há democracia verdadeira sem espaço para divergência.
A trajetória de María Corina Machado mostra que lideranças democráticas não nascem de unanimidades, mas de coragem, de capacidade de diálogo e de compromisso com princípios. Ao reconhecer seu papel, o Brasil também reafirma a importância de manter nossa democracia viva, plural e capaz de resolver seus conflitos com respeito e maturidade institucional.
Um recado ao futuro
O Nobel da Paz de 2025 é, em última análise, um lembrete: ditaduras não são alternativas aceitáveis. O verdadeiro desenvolvimento econômico, social e humano só floresce em ambientes onde há liberdade, participação e respeito ao Estado de Direito. O Brasil tem condições de liderar esse discurso na América Latina, com voz firme e coerente.
Ao celebrar este Nobel, celebramos também a coragem, a esperança e a gestão democrática que constrói pontes, não muros. É hora de reafirmar, sem meias palavras: o futuro da América Latina é democrático, livre e construído com diálogo.
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