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Só para inglês ver

Rodolfo de Souza
06/11/2025 | 09:24
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FOTO: Gilmar Diário do Grande ABC - Notícias e informações do Grande ABC: Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra


A polícia subiu o morro, matou e morreu. Aliás, cortejar a morte é exercício corriqueiro nesse meio que, a princípio, tem como papel coibir a violência. Um tanto estranho, diga-se de passagem, isso de fazer da morte um instrumento de combate ao crime. Parece que os agentes da lei veem alguma eficácia no método. Claro que suas balas não atingem a cadeia de comando, cujo endereço não é propriamente a comunidade escolhida para uma visitinha ao raiar do dia. 

Mas houve quem elogiasse a ação de quem considerou vitória matar peixes pequenos, gente inocente e apreender meia dúzia de armas. Nada mudou, afinal. O tráfico permanece com sua atividade costumeira, uma vez que gente para função é o que não falta. Quanto às armas apreendidas, outras novinhas em folha tomarão o seu lugar para dar sequência aos trabalhos e ao grosso faturamento.

Para que, então, serviu tanto barulho e tanta morte? Serviu evidentemente para ofuscar um pouco o brilho daquele que está no comando da nação e cuja condução da coisa pública não agrada a determinado segmento político que sente certo desconforto com o sucesso dela. Buscou-se, pois, no ataque aos traficantes um pretexto para culpá-lo pelo tamanho da hidra, cujas cabeças denotam a sua idade. Bicho gigantesco que se tornou incontrolável através dos anos, e que vem engolindo os governantes do lugar desde tempos imemoriais. 

Serviu, então, a peleja, para desviar a atenção do povo para o problema da violência naquele estado, que, há muito, vem fazendo da cidade maravilhosa um campo minado nos morros ou fora deles. Foi usada ainda para que o império do norte, com seu impetuoso imperador de imponente topete, considerasse a possibilidade de enviar navios de guerra lá para a Guanabara com a desculpa esfarrapada de combater terroristas. Pelo menos é o que pretenderam certos políticos entreguistas, de cujas mãos sujas partiu um relatório para a embaixada do império, dando conta de que a bandidagem daqui pode ser considerada terrorista.

A população das comunidades envolvidas contribuiu, como sempre, com mortos e feridos. Coube a ela também contar as histórias de pavor e correria que viveu, e que a grande mídia não fez questão de revelar. Revelou sim, sem muita cerimônia, tudo o que a polícia considerou conveniente tornar público.

Muitas pesquisas de opinião foram feitas também com a finalidade única de se exaltar o feito político da autoridade máxima do estado. Sem sombra de dúvida, um ganho eleitoral para quem almeja uma cadeira no senado.

A população teria apoiado o ataque policial, é o que dizem os números. Convenhamos, entretanto, que um povo submetido a décadas de opressão pelo crime organizado, habituado que está em conviver com o medo, por certo que haveria de aplaudir iniciativa de tamanha monta. Corpos de bandidos espalhados, afinal, é cena de encher os olhos de quem não pensa noutra coisa senão em justiça, ou, quem sabe, vingança.

Mas não demora e a poeira assenta. Tudo volta à sua normalidade até que um novo plano mirabolante de combate ao tráfico se apresente como forma de manipular a opinião pública, facilmente manipulável. É só para o que serve.




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