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COP e o risco de virar a ‘Copa’ que conhecemos

Paulo Serra
16/11/2025 | 09:30
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Fernandes Diário do Grande ABC - Notícias e informações do Grande ABC: Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra


A realização da COP no Brasil deveria representar uma oportunidade histórica para recolocar o País no centro do debate climático global. Em um momento em que o mundo já sente os impactos severos do aquecimento; secas, enchentes, eventos extremos e perdas econômicas crescentes; sediar o principal fórum climático internacional tem enorme valor político, ambiental e simbólico. No entanto, cresce o receio de que a COP brasileira acabe se transformando na nossa “Copa”: um evento marcado mais pelos problemas estruturais e pelos constrangimentos do que pelos resultados concretos.

A raiz desse risco está na combinação entre baixa efetividade das medidas anunciadas, infraestrutura insuficiente e prestígio internacional reduzido, refletido na presença tímida de chefes de Estado. Um encontro dessa magnitude depende de organização impecável, da capacidade de mobilizar lideranças globais e de entregar mensagens claras ao mundo. Quando esses elementos falham, o impacto político evapora – e o evento passa a ser lembrado mais pelos tropeços do que pelos avanços.

É difícil ignorar os paralelos com a Copa do Mundo de 2014, que acabou se transformando em um símbolo de frustração nacional. Não apenas pelo traumático 7 a 1, mas pela sucessão de obras prometidas que ficaram pela metade, pelos gastos elevados sem retorno proporcional e pelos protestos que dominaram as ruas. A Copa revelou uma falha típica do poder público brasileiro: grandes anúncios, grandes expectativas e uma incapacidade crônica de transformar planejamento em entrega.

Agora, com a COP, alguns sinais preocupantes se repetem. O País enfrenta relatos de infraestrutura improvisada, falta de organização logística, dificuldades operacionais, protestos e, sobretudo, a percepção internacional de que o Brasil não conseguiu atrair o protagonismo esperado. A pauta climática é urgente e vital; o Brasil já experimenta eventos extremos severos, como as enchentes históricas no Sul e as estiagens prolongadas na Amazônia. Mas a força da pauta, por si só, não compensa a fragilidade operacional.

O risco é claro: se a COP se converte apenas em um grande palco para discursos vazios, problemas estruturais e desencontros políticos, ela pode entrar para a memória nacional não como um marco ambiental, mas como mais um símbolo de improviso e desperdício de oportunidade: a nossa “Copa do Clima”.

Isso seria especialmente grave porque o Brasil possui todas as condições para liderar a agenda ambiental global: matriz energética limpa, biodiversidade incomparável, potencial de transição ecológica e experiência acumulada em negociações climáticas. Falta transformar essas vantagens em credibilidade, estabilidade institucional e capacidade de entrega.

A COP ainda pode ser um sucesso? Sim. Basta que o País trate a agenda climática com seriedade e competência, indo além da retórica. Mas o alerta está dado: ou organizamos a COP com espírito de Estado, planejamento e maturidade, ou corremos o risco de reviver o roteiro da Copa, marcado por frustração, expectativas não cumpridas e um 7 a 1 que ninguém quer repetir.




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