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Mas eles não sabem

Rodolfo de Souza
20/11/2025 | 17:14
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Gilmar Diário do Grande ABC - Notícias e informações do Grande ABC: Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra


 O que normalmente se ouve no meio docente das escolas públicas são discussões acaloradas que vão do planejamento a críticas ao sistema educacional e também às estratégias ditadas por aqueles que nunca estiveram dentro de uma sala de aula com a finalidade única de conduzir o aluno à construção do seu conhecimento. 

E é justamente este último o quesito mais sensível, o tema mais preocupante: o pouco desenvolvimento intelectual que experimenta a juventude nos dias atuais. Quase nada talvez seja expressão mais adequada num contexto em que o descaso pela proposta escolar é aviltante. Eu, que sou do meio, tenho assistido de perto a tal fenômeno, e isso tem me causado apreensão, dada a consciência de que analfabetos funcionais tendem a trabalhar contra o progresso do seu país, pensando que trabalham a favor. 

São levados a acreditar nisso, presas fáceis que se tornam.

Mais inquietante ainda é a possibilidade de vir, essa gente, a tomar o poder um dia. Todos sabemos, afinal, o estrago que promove uma pessoa desqualificada no comando do país, alguém cuja primeira providência é sempre minguar os recursos da educação por não se afinar com ela e também por saber que gente intelectualmente evoluída escolhe melhor os seus governantes, e cobra.

Mas eles vão à escola, vestem uniforme e carregam material escolar, tudo recebido gratuitamente para que cresçam não só no tamanho, mas também no aspecto cultural!

No entanto, nada devolvem senão o desdém para com temas normalmente abordados ali no templo do saber. Então, o que fazem na escola, o que exatamente buscam lá? Certamente frequentam o lugar só para consolidar a farra que se inicia nas redes sociais, templo da futilidade, local avesso ao conhecimento. 

Chego a pensar na possibilidade de ser hereditária essa predisposição à vida mansa, ao tédio das redes que tende a apodrecer a mente ainda verde antes mesmo que amadureça. É, afinal, o templo da conversa fiada, do papo que não desperta a criticidade, fácil de ser digerido e que toma como relevante, por exemplo, a exposição da vida alheia. Escola que forma criaturas que desprezam o que de fato tem valor neste mundo, para mergulhar de cabeça no ostracismo a que a frivolidade diária conduz. Tudo isso endossado por papai e mamãe que se enchem de orgulho diante do nada que vem aprendendo o rebento.

Quando olho para bons alunos ou alunas de outrora, hoje também entregues ao sono e à vontade nenhuma de aprender, me chega ao pensamento um fim de tarde quente em que uma mosca chata espalha seu zumbido que remete a uma letargia de quem nada espera da vida senão aborrecimento.

Observo-os daqui, e o quadro não é dos mais felizes, embora sua alegria denote o contrário. São jovens que crescerão ao sabor das futilidades, se unirão a outros, conceberão e ensinarão à prole o nada que se dispuseram a aprender durante a vida. E assim, sucessivamente, as gerações andarão na contramão da evolução, sempre de costas para o que de fato tem valor neste mundo: a ciência, as artes, o pensamento refinado, a vida de verdade que elas sequer imaginam existir. E não se engane você pensando que uma hecatombe nuclear ou alguma peste venham para colocar um ponto final na existência. A estupidez, esta sim porá fim aos ímpetos humanos quaisquer que sejam, bons ou maus.




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