Saúde de Família & Comunidade

O nosso país é gigante não apenas em extensão territorial, mas também em cultura, regionalidade, aspectos sociais e até mesmo econômicos. E você já parou para pensar que a região onde você mora ou trabalha, impacta diretamente na sua saúde e qualidade de vida?
Por isso que a especialidade médica Medicina de Família e Comunidade tem esse nome, porque muito mais que avaliar a pessoa, por meio do seu contexto histórico individual e familiar, analisa o impacto que o território onde a pessoa vive afeta diretamente o bem-estar físico e mental dela.
Ainda, existem aspectos tão enraizados que precisam ser levados em conta quando estamos em uma consulta antes de indicar determinado diagnóstico, como por exemplo, respeitar não só as origens, como também crenças. Um bom exemplo são as equipes de saúde que atendem as populações indígenas no Norte, que precisam aliar a medicina ocidental com as tradições milenares de cura para tratamento de doenças que podem ser fatais.
Trazendo para o Sudeste, onde vivemos entre cidades que fervem dia e noite, como nos centros empresariais, cujo estresse causado pelo excesso de trabalho, mexe muito com a saúde física, abalando o emocional, ao custo de uma situação financeira confortável. Em contraste, temos também famílias que vivem em condições sociais de miséria nas periferias e comunidades, onde a insegurança alimentar reina todos os dias. É impossível não se avaliar esses aspectos e como esses determinantes econômicos e sociais afetam o dia a dia de uma população.
A sigla da Medicina de Família e Comunidade é MFC. E ela é só completa quando vivemos a comunidade, conhecendo suas ruas, vielas, casas de sapê, barracos de madeira, até mesmo atendendo embaixo de uma árvore que nos oferece sombra ou dentro de uma sala de aula improvisada em cidades que não tem estrutura básica para atendimento médico.
Não importa o ambiente, estamos lá, sendo olhos e ouvidos de pessoas que nunca tiveram voz para que elas simplesmente tentem expressar o que sentem não só no corpo, mas na alma.
E é justamente nessa escuta qualificada que a MFC revela sua força: adoece a pessoa, mas também o território que a cerca. Ainda mais em um país como o Brasil, quando falta saneamento, o transporte público é precário, a escola muitas vezes não acolhe, o emprego é instável, a violência faz parte da rotina no asfalto e dentro das grandes comunidades. Cada uma dessas camadas influência tratamentos, diagnósticos e, sobretudo, possibilidades de cuidado.
E, ao se fazer presente nesses espaços, a MFC constrói algo raro: vínculo. Um laço que não se desfaz com a primeira dificuldade, porque é construído na confiança, no respeito e na compreensão profunda das realidades diversas que formam o Brasil. É esse encontro entre pessoas, histórias e territórios que transforma o cuidado em algo verdadeiramente humano, contínuo e possível. E é por isso que a Medicina de Família e Comunidade no Brasil está cada vez mais resiliente e resistente, para e por essas pessoas que mais precisam de nós.
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