Opinião
FOTO: Celso Luiz/DGABC

No momento em que a entrega imediata da informação por meio de plataformas digitais se tornou o principal fator competitivo dos veículos de comunicação, o Diário coloca nas mãos dos leitores um suplemento especial em papel destinado a celebrar as suas 20.000 edições. Por mais paradoxal que possa parecer, a ideia é mostrar que ainda existem boas razões para se manter o bom e velho jornal impresso em circulação.
Embora para muitos leitores o papel possa parecer anacrônico em meio a uma sociedade digital, sua existência como parte essencial do ecossistema informativo contemporâneo extrapola a mera nostalgia. Falemos, em primeiro lugar, da credibilidade. O jornal físico carrega um peso simbólico que o digital ainda não substitui por completo. A impossibilidade de revisões posteriores torna a apuração mais rigorosa e responsável.
Existem estudos científicos bastante sérios que comprovam maior capacidade de compreensão e retenção das informações entre quem lê em papel. Sem notificações, abas concorrentes e volatilidade da hipertextualidade, para ficar em alguns exemplos característicos dos veículos on-line, o leitor se entrega ao conteúdo com mais concentração e profundidade, o que faz do impresso a plataforma mais adequada a reportagens longas, perfis analíticos e investigações substanciais.
Há também a inegável dimensão histórica. Edições impressas são documentos culturais e arquivísticos, preserváveis por séculos, à disposição dos pesquisadores. Ao contrário de páginas digitais que desaparecem, links que se rompem e bancos de dados que se deterioram, o impresso garante a existência material da memória jornalística – e, portanto, da memória social.
Invoquem-se aqui os testemunhos de dois dos mais rigorosos escritores contemporâneos, o jornalista brasileiro Fernando Morais e o brasilianista norte-americano John French. Recentemente, ambos recorreram ao arquivo do Diário, onde estão muito bem preservadas as 19.999 edições publicadas até ontem, para pesquisar detalhes da história do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do qual ambos são biógrafos.
Particularmente, atribuo aos veículos impressos uma vantagem que o advento da internet só fez acentuar: a curadoria do que é, de fato, relevante. Em meio ao excesso de informações oferecidas pela rede mundial de computadores, a seleção criteriosa de conteúdos apresentada no papel orienta o leitor para o que realmente importa. O simples ato de folhear um jornal ou uma revista é capaz de dar uma ideia segura de tudo o que de importante ocorreu no período entre uma edição e outra. Cria-se repertório.
Por fim, mas não menos importante, há o argumento da inclusão. Ainda existe quem não dispõe de internet regular, não domina o uso de dispositivos digitais ou simplesmente prefere a leitura física. Manter o jornal impresso é, portanto, assegurar que o acesso à informação seja verdadeiramente democrático, atendendo a públicos diversos e a realidades que a conectividade plena não alcança.
Em época marcada pela desinformação, das fake news às opiniões travestidas de informações, veículos impressos costumam ser associados à veracidade e à responsabilidade editorial – atributos essenciais ao bom jornalismo. Certamente não é por outras razões que jornais digitais desaparecem da noite para o dia enquanto os de papel, alguns com mais de um século de história para contar, seguem firmes, fortes e financeiramente saudáveis.
É assim que pensamos aqui no Diário. Apostar no impresso não significa resistir ao futuro, mas reconhecê-lo como parte de um ecossistema complementar, no qual o digital e o físico se fortalecem mutuamente. Em um mundo saturado de velocidade e instabilidade, o jornal de papel continua a oferecer algo raro: profundidade, permanência e confiança. E por isso, ainda importa.
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