Edição 20.000 ‘Diário’ fez ampla cobertura do primeiro pleito após a promulgação da nova Constituição
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Ao final da década de 1980, o Diário, já consolidado como um dos principais jornais regionais do País, seguia cumprindo seu papel de informar o eleitor com precisão e pluralidade. Em 1988, atualizou o panorama político do Grande ABC ao acompanhar de perto a movimentação dos candidatos às sete prefeituras da região.
As eleições de 15 de novembro de 1988 foram as primeiras após a promulgação da nova Constituição, embora ainda sem a regra de dois turnos. No mesmo dia, ocorreram também as eleições gerais no recém-criado Estado do Tocantins.
Ao longo dos meses que antecederam o pleito, o jornal publicou ampla cobertura das principais agendas dos concorrentes e de suas propostas. Um suplemento especial apresentou pesquisas de intenção de voto, além de um caderno com os endereços dos locais de votação e a lista dos mesários convocados para recepcionar e organizar o fluxo de eleitores.
Na disputa pelo Executivo, estavam 44 candidatos, enquanto 2.690 postulantes concorriam às vagas nos Legislativos municipais, buscando conquistar a preferência de 1.159.697 eleitores.
Na época, a tecnologia eleitoral ainda engatinhava no País: a votação era realizada em cédulas de papel, conferidas manualmente uma a uma. Como retrato desse sistema arcaico, o Diário noticiou em 1º de novembro: ‘S.Caetano vai apurar os votos manualmente’. A reportagem entrevistou o juiz eleitoral Jaime Franco, o qual afirmou que, diferentemente de Santo André e São Bernardo, o município não utilizaria computadores para a totalização dos votos.
As campanhas foram marcadas por confusões entre apoiadores, destruição e apreensão de materiais, brigas e pelas então comuns ações de boca de urna, hoje proibidas e consideradas crime.
A tensão ganhou destaque também em 1º de novembro de 1988, na matéria ‘Violência e troca de acusações na campanha de Diadema’. Segundo o noticiário, o então candidato do PMDB à Prefeitura, Romeu Costa Pereira, afirmou ter sido vítima de uma tentativa de homicídio durante comício no Jardim Marilene, acusando agressores que estariam com bandeiras e camisetas do PT. Do outro lado, o candidato José Augusto (PT) disse que a briga teria sido incitada pelo peemedebista.
Se hoje a internet é o principal meio de difusão de propostas e ideologias, no final dos anos 1980 o corpo a corpo e a panfletagem predominavam. Porém, em Rio Grande da Serra, com apenas 24 anos à época e com acesso limitado às inovações tecnológicas, um candidato inovou e o jornal publicou: ‘Tevê pirata põe campanha de Teixeira no ar em Rio Grande da Serra’. José Teixeira (PMDB) apareceu em uma transmissão clandestina ao lado do governador Orestes Quércia, no canal 3, no mesmo horário da propaganda eleitoral oficial. Foram três inserções de 40 minutos cada, em dias consecutivos. As imagens, porém, eram chuviscadas e de baixa qualidade.
Dias depois, após investigação, decodificadores e transmissores foram apreendidos, e o candidato acabou preso em regime domiciliar.
Dois dias antes das eleições, o Diário publicou pesquisa de intenção de voto e estampou na capa: “Celso, Demarchi e Tortorello na frente – Diadema: Augusto dispara; Mauá: Grecco cai; Ribeirão: Luiz Carlos lidera; Rio Grande: Franco avança.”
Em seu auge, a Rádio Diário AM 1300 realizou a apuração com boletins divulgados de hora em hora. O trabalho envolveu oito locutores, sete repórteres e uma equipe técnica completa. No dia seguinte ao pleito, o jornal noticiou: ‘Eleição tranquila encerra campanha mais violenta da história da região’.
Com os resultados matematicamente definidos, a edição de 17 de novembro de 1988 destacou na capa: ‘PT garante Sto. André, S.Bernardo e Diadema; PTB leva São Caetano’.
RESULTADO
Os eleitos naquele ano foram: Celso Daniel (PT - Santo André), Maurício Soares (PT - São Bernardo), Luiz Olinto Tortorello (PTB - São Caetano), José Augusto (PT - Diadema), Amaury Fioravanti (PL - Mauá), Luiz Carlos Grecco (PTB - Ribeirão Pires), e Cido Franco (PTB - Rio Grande da Serra), que fugiu após receber ameaça de morte.
Após 21 anos sob o regime militar, o brasileiro voltou às urnas para escolher, pelo voto direto, o presidente da República. O Diário, acompanhando de perto o dia a dia dos candidatos, publicou pesquisas de intenção de voto para medir o humor do eleitores e projetar possíveis cenários eleitorais.
As estratégias políticas e as movimentações dos postulantes eram constantemente noticiadas, e a maior parte das pautas girava em torno das propostas para enfrentar os problemas econômicos do País e a hiperinflação que assolava a população.
Liderança sindical no Grande ABC, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) despontou na pesquisa divulgada pelo Diário em 22 de outubro de 1989, estampada com destaque: ‘Lula passa Collor e fica em primeiro no Grande ABC; Maluf está em segundo’.
Assim como nas eleições municipais do ano anterior, a campanha presidencial foi marcada por episódios de confusão. Em uma das situações, cabos eleitorais de Leonel Brizola (PDT) que faziam panfletagem na porta da Volkswagen, em São Bernardo, foram expulsos por um grupo de cerca de 20 mil trabalhadores.
A matéria de 19 de outubro de 1989, sob o título ‘Comício de brizolistas na porta da Volks termina em confusão’, relatou que os apoiadores foram “repelidos por uma chuva de ovos, laranjas, mamões e abacates, que estilhaçaram o vidro do caminhão”, espécie de trio elétrico usado na campanha de Brizola.
O Diário também acompanhou em detalhes a inesperada empreitada política do empresário e comunicador Silvio Santos, que ingressou na disputa presidencial às vésperas da eleição. Após tentativas frustradas no PFL e no PL, acabou candidato pelo PMB (Partido Municipalista Brasileiro).
Outra reportagem destacou uma novidade tecnológica para o processo eleitoral: ‘Máquina de votar chega ao País para ser testada’. Tratava-se da precursora das urnas eletrônicas, de origem americana, que permitiria votar por números e possibilitaria a apuração em todo o Brasil no mesmo dia.
No total, 22 candidatos disputaram o pleito de 1989. Fernando Collor de Mello (PRN) venceu a eleição, tendo Lula em segundo. Silvio Santos terminou em último lugar.
Em 1992, o Diário, já consolidado como referência no jornalismo regional e principal fonte de informação política do Grande ABC, preparou sua equipe para cobrir mais uma eleição municipal, uma das últimas realizadas com voto em papel. Além dos tradicionais e precisos levantamentos eleitorais, como o destaque ‘Primeiros resultados confirmam pesquisa’, o jornal noticiou, a apenas dois dias do pleito de 3 de outubro, que muitos candidatos a vice-prefeito ainda desconheciam suas atribuições em um eventual governo: ‘Candidatos a vice-prefeito ainda não sabem que tarefas podem desempenhar’. Naquele ano, cerca de 1,3 milhão estavam aptos a votar na região.
Dois anos depois, na véspera da eleição presidencial de 1994, o Diário trouxe grande destaque: ‘FHC empata com Lula na região’. As tendências eleitorais apontavam para a segunda derrota consecutiva de Lula na disputa pelo Planalto. O resultado se confirmou: Fernando Henrique Cardoso (PSDB) venceu com diferença de 27,24 pontos percentuais. Com o fim da votação e a apuração concluída, a edição de 4 de outubro estampou: ‘Fernando Henrique presidente’.
Em 1996, candidatos mal colocados nas pesquisas tentavam desqualificar os levantamentos, alegando que os institutos não consideravam a transição do voto em papel para a urna eletrônica. Naquele ano, moradores de Santo André, São Bernardo e Diadema utilizaram as urnas eletrônicas pela primeira vez.
A novidade, porém, gerou apreensão entre os concorrentes, e o Diário relatou que ‘Partidos mobilizam mais de 15 mil fiscais’, reflexo das desconfianças quanto à segurança dos novos equipamentos. A solução tecnológica, entretanto, se consolidou: quase três décadas depois, as urnas eletrônicas alcançaram todos os cantos do País.
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