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Estudo da USCS mostra protagonismo de igrejas nas favelas do Grande ABC

Comunidades enfrentam desafios para acesso a políticas públicas

13/12/2025 | 19:04
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FOTO: André Henriques/DGABC
FOTO: André Henriques/DGABC Diário do Grande ABC - Notícias e informações do Grande ABC: Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra


 Levantamento sobre o perfil dos estabelecimentos em favelas e comunidades das cidades do Grande ABC mostra o protagonismo das instituições religiosas em detrimento de áreas essenciais, como saúde e educação. O estudo, apresentado na 33ª Carta de Conjuntura da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), levou em conta dados do último Censo (2022) e questionários aplicados à população. 

Os dados coletados em seis cidades – exceto São Caetano – revelam maior frequência relativa de estabelecimentos religiosos: 732, quase 20 vezes mais do que unidades de saúde (37). Em relação à educação, o número de instituições de ensino é 17 vezes menor, com 44 unidades.

O levantamento mostra ainda porcentagem significativa de atividades agropecuárias nas comunidades, com 354 locais destinados a essas práticas, sendo que 87,6% se concentram em São Bernardo, com 310 menções durante a coleta de dados. 

Segundo o estudo, favelas e comunidades de São Bernardo contam com 275 instituições religiosas, o que representa 37,6% do total da região (732). Santo André aparece em segundo, com 185 locais de cunho religioso. Mauá surge em terceiro, com 167, seguida por Diadema, com 91; Rio Grande da Serra, com 11; e Ribeirão Pires, com três.

No comparativo das áreas essenciais, o levantamento revela concentração elevada de organizações religiosas, enquanto os estabelecimentos de ensino e saúde mantêm contagem significativamente menor em todos os municípios.

Em São Bernardo, por exemplo, que apresenta índices relativamente bons de prevalência de instituições de ensino (20), com 45,5% do total de 44 da região, e de saúde, com 59,5% (22) das 37 unidades distribuídas em todas as cidades, a discrepância fica evidente: 275 organizações religiosas, contra 44 instituições somando as duas demais áreas.

Santo André conta nesses territórios com quatro unidades de ensino e duas de saúde; já Mauá, respectivamente, com 12 e sete. Nas áreas pesquisadas em Diadema foram contabilizadas oito instituições de ensino e quatro de saúde. Rio Grande da Serra conta com apenas dois estabelecimentos de saúde, e Ribeirão Pires não tem prevalência de nenhuma instituição de saúde e educação em favelas e comunidades.

Para a socióloga Priscila Gorzoni, os dados confirmam que ainda existe abandono dessas comunidades e que o poder público continua deixando a desejar nessas áreas. A especialista explica que a exclusão ocorre não apenas em termos de estrutura sanitária ou manejo de lixo, mas também na dimensão cultural.

“Nessas comunidades, muitas vezes o jovem não tem nem onde se divertir. Não há espaços culturais, não há parques. Isso acaba gerando um problema social sério. As igrejas entram justamente nesse contexto, oferecendo suporte e suprindo, muitas vezes, a lacuna deixada pelo Estado. Resumindo: aonde o poder público não entra, a religião ocupa esse espaço”, disse Priscila.

De acordo com Regina Albanese Pose, uma das autoras, a motivação principal  para realização do estudo é composta por um binômio, considerando, em primeiro lugar, a capacitação de jovens acadêmicos de distintas áreas do conhecimento, desenvolvam “skills” de ciência de dados e estatística, e, em segundo lugar (e por isto esta ordem), que estes jovens possam gerar valores associados às coletas e organização dos dados, a fim de que, sociedade civil, meios de comunicação e mesmo o poder público possa fazer uso dos mesmos, e gerar insights sobre os mesmos.

"Vivemos em um mundo onde dados são coletados de todos os setores e a todo instante. E, cada vez mais é necessário ter profissionais das diversas áreas do conhecimento, capacitados para recolher e processar esses dados. Receber informações que agreguem valor e que posam gerar insights é o desejo de todos os profissionais e de todas as organizações. Para que toda esta “mágica” ocorra, são necessárias competências sólidas em estatística, matemática, computação. A estatística, a matemática e a computação são alicerces da inteligência artificial tão largamente explorada hoje. Sem uma fundamentação teórica fidedigna nestas áreas, não existe previsão confiável, nem aprendizado de máquina, nem decisões baseadas em evidências.o estudo tem como objetivo", afirmou Regina Albanese, que é professora  e Gestora do Curso de Bacharelado em Estatística e Ciência de Dados da USCS.




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