Selic

Na última quarta-feira ( 10), o Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu manter a Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia) em 15%, o maior patamar desde 2003. É um tema recorrente, eu sei, mas como industrial e como representante do setor produtivo no CIESP (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), é impossível deixar de abordá-lo, porque seus impactos são profundos e atravessam todas as cadeias econômicas do País.
Não sou economista. Sou empresário. Vivo o dia a dia da indústria, onde cada investimento depende de planejamento, risco e confiança no futuro. E diante desse cenário, uma pergunta se torna inevitável: a quem, de fato, os juros altos beneficiam no Brasil?
Certamente não é a indústria, nem o empreendedor, nem os milhões de trabalhadores que dependem de um ambiente de negócios saudável.
Com a Selic nesse nível, quem ganha são, principalmente, os especuladores, que encontram aqui uma rentabilidade incomparável, e os bancos, que captam recursos a juros muito menores no exterior e não repassam essa vantagem ao pequeno investidor ou ao setor produtivo. O resultado é uma desconexão preocupante: enquanto a economia real perde competitividade, a intermediação financeira vive um de seus melhores momentos.
Diante disso, fica uma pergunta institucionalmente necessária: o Banco Central está atuando em benefício de qual Brasil?
Certamente não é o Brasil que precisa modernizar suas plantas, ampliar capacidade, investir em inovação, adotar energia limpa, formar mão de obra e competir globalmente.
Dados da CNI mostram que o custo médio do crédito para empresas já supera 22% ao ano. No financiamento de longo prazo, essencial para a indústria, a oferta recuou quase 20% nos últimos 12 meses. É um cenário que acende um alerta máximo. Como investir? Como inovar? Como enfrentar países que financiam sua indústria com taxas entre 2% e 4% ao ano?
Os reflexos também atingem setores estratégicos como a construção civil, que desacelera porque o crédito se torna inacessível ao consumidor. E quando a construção para, muitos elos da economia param junto.
No CIESP, acompanhamos de perto a frustração de empresários que adiam projetos, congelam expansões e perdem competitividade internacional. O Brasil insiste em caminhar na contramão do desenvolvimento ao penalizar quem produz.
Fica aqui uma provocação necessária: se queremos um País industrial forte, inovador e gerador de oportunidades, não é possível conviver com juros que inviabilizam o investimento e premiam apenas a especulação. Empreender no Brasil exige resiliência admirável. Mas também exige que decisões de política monetária estejam alinhadas ao futuro que queremos construir. E o futuro do nosso País depende, inevitavelmente, de uma indústria forte, moderna e capaz de competir.
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