Educação Internos participam do exame nesta semana e sonham com oportunidade no ensino superior
FOTO: Denis Maciel/DGABC

No Grande ABC, 12 jovens da Fundação Casa (Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente) estão inscritos no Enem PPL 2025 (Exame Nacional do Ensino Médio para Pessoas Privadas de Liberdade). As provas serão aplicadas nesta terça e quarta-feira (16 e 17).
A Fundação possui cinco unidades, sendo duas em Santo André, uma em São Bernardo, uma em Diadema e uma em Mauá. Para a edição deste ano do Enem, a cidade andreense acumula a maioria dos internos inscritos, com dez jovens. Na sequência, aparecem São Bernardo e Diadema, ambas com um participante cada.
Em comparação com o ano passado, o número de participantes teve um leve aumento. Em 2024, o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), responsável pela aplicação do exame, registrou 11 candidatos das unidades do Grande ABC.
A inscrição para o Enem PPL é voluntária, gratuita e acompanhada pelos responsáveis pedagógicos. O teste é dividido em quatro provas objetivas, cada uma com 45 questões, além de uma redação.
Além de ser uma oportunidade de ingressar no ensino superior, o concurso é uma alternativa para os internos mudarem o rumo e terem outra perspectiva de vida.
Em uma sala com um gigante desenho colorido e sete computadores, Luciano (nome fictício para proteger a identidade do interno) aguardava o começo do cursinho pré-vestibular on-line, realizado todos os dias das 16h às 18h. Comunicativo, interessado em livros e com esperança de uma vivência melhor, o jovem está internado na unidade Santo André I desde outubro de 2024.
Com 17 anos, Luciano é um dos inscritos no Enem PPL. Sua rotina de estudos começa às 7h com aulas do ensino médio na Fundação. Depois dos estudos, o jovem realiza atividades educativas, esportivas e até cursos profissionalizantes.
Para ele, a vontade de participar do exame surgiu na Fundação Casa. “Conhecia o Enem há bastante tempo, sempre falavam que era depois do terceiro ano do ensino médio. Não tinha nenhuma vontade de fazer e cursar uma faculdade. Mas depois fui vendo que o estudo é essencial para minha vida e da minha família”, comentou Luciano.
Ainda de acordo com ele, o Direito é sua escolha para o ensino superior. “A vontade de cursar essa área surgiu a partir de um livro que li aqui dentro. Quero ser advogado pela minha trajetória. Na minha vida, vi muita injustiça e isso causa uma certa revolta. A faculdade não é só um sonho meu, mas também dos meus pais”, relatou o jovem.
O diretor da unidade Santo André I, Marcelo de Campos, enxerga o incentivo familiar como crucial nesse processo. “Sempre falo para os familiares que eles têm que apostar no filho. Tem que olhar daqui para frente. O menino, quando vê que está concorrendo igual aos outros, ele enxerga um pertencimento social”, ressaltou Campos.
É por essa questão familiar que o jovem Fernando (também nome fictício), 18, apegou-se aos estudos e pretende seguir a mesma carreira do pai: Engenharia Civil.
Na unidade desde agosto de 2024, o interno comentou que a ansiedade tem aumentado devido ao teste. “Às vezes parece que bate alguma coisa no coração e fico pensando em como vou ser quando sair. Estou estudando cada vez mais para ir bem. Fiz outros vestibulares como o Provão Paulista e isso ajuda”, disse Fernando.
O Provão Paulista é um vestibular da rede estadual que oferece vagas na USP (Universidade de São Paulo), Unesp (Universidade Estadual Paulista), Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Univesp (Universidade Virtual do Estado de São Paulo) e Fatecs (Faculdades de Tecnologia do Estado de São Paulo).
Além da expectativa do Enem, Fernando nutre a esperança de conseguir a liberdade. “Às vezes o relatório dá negado, mas logo, logo vou embora”, falou. O documento que o jovem se refere é uma avaliação do judiciário ou da própria instituição em relação à progressão da medida socioeducativa, ou outras decisões.
Para o diretor Marcelo de Campos, muitos adolescentes começam a construir um futuro somente a partir da pena socioeducativa. “Infelizmente, alguns adolescentes têm que ser privados de liberdade para conhecer seus direitos. A gente recebe meninos que não têm documento. Aqui, eles começam a frequentar a escola de fato e a gente ajuda a construir a consciência para que eles se reconheçam como cidadãos”, concluiu.
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.