Problema realmente sério

Embora o Diário não divulgue casos isolados de suicídio, seguindo protocolo inspirado no chamado efeito Werther – conceito que descreve o risco de aumento de mortes após exposições midiáticas repetidas ou detalhadas sobre o tema –, o jornal acompanha com atenção permanente as estatísticas relacionadas ao assunto. A opção editorial busca evitar estímulos involuntários, sem silenciar um problema que cresce na região. Por isso, as páginas deste veículo permanecem abertas a reportagens voltadas à identificação de causas, padrões e transformações sociais que ajudam a compreender o avanço desses registros no Grande ABC, permitindo debate público responsável.

Os dados oficiais indicam trajetória de alta contínua, o que exige leitura cuidadosa e ação coletiva. Especialistas apontam relação direta com transtornos mentais, uso de substâncias, ambientes digitais sem controle e dificuldade crescente de lidar com frustrações, sobretudo entre jovens. Nesse contexto, o Diário lançou em 13 de abril a campanha Nossa Saúde Mental, iniciativa voltada a ampliar a discussão sobre cuidado psicológico e acesso ao tratamento nas sete cidades. A proposta reforça a ideia de o que cuidado emocional precisa integrar políticas públicas, rotinas familiares e agendas institucionais, com atenção semelhante à dedicada a outras áreas do bem-estar.

Diante do aumento de 15% nos casos de mortes voluntárias em dois anos no Grande ABC, conforme reportagem publicada nesta edição, cabe às cidades estruturar estratégias de prevenção, integrando escolas, postos de saúde, assistência social e redes comunitárias. Ampliar atendimento, capacitar profissionais, orientar famílias e monitorar ambientes virtuais são caminhos possíveis. O escritor Albert Camus (1913-1960) foi preciso ao dizer que só existe um problema filosófico realmente sério: o suicídio. “Julgar se a vida vale ou não vale a pena ser vivida é responder à pergunta fundamental.” Transformar essa reflexão em políticas concretas pode representar a diferença entre estatística e cuidado.