Luto Ele estava internado no Hospital Beneficência Portuguesa, na Capital, onde tratava um câncer e havia sofrido recentemente um AVC
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Faleceu no final da noite desta segunda-feira (16), aos 78 anos, o professor sênior e livre-docente da ECA (Escola de Comunicações e Artes) da Universidade de São Paulo, Luiz Roberto Alves. Ele estava internado no Hospital Beneficência Portuguesa, na Capital, onde tratava um câncer e havia sofrido recentemente um AVC (Acidente Vascular Cerebral).
Nascido em 3 de janeiro de 1947, em Murutinga do Sul, na região de Andradina (SP), Luiz Roberto Alves construiu uma trajetória acadêmica, intelectual e política marcada pelo compromisso com a educação pública, a cultura, os direitos humanos e o desenvolvimento regional. Viveu a infância e a adolescência em Presidente Prudente, no Oeste Paulista, e desenvolveu sua carreira principalmente no Grande ABC e na cidade de São Paulo.
Com quase seis décadas dedicadas ao magistério, Alves formou gerações de estudantes. Iniciou a carreira em escolas públicas de Mauá, São Bernardo do Campo e Diadema, atuando como professor e diretor. Ao longo de 40 anos, lecionou para milhares de alunos nos cursos de Jornalismo, Rádio e TV e Publicidade da ECA-USP e da Universidade Metodista de São Paulo. Na Metodista, foi coordenador da pós-graduação em Comunicação, vice-diretor geral e participou ativamente do processo de transformação do antigo Instituto Metodista em universidade. Também foi fundador e coordenador da Cátedra de Gestão de Cidades, dedicada a estudos sobre planejamento e integração de políticas públicas no Grande ABC.
Na esfera pública, ocupou cargos de destaque. Foi presidente da Câmara de Educação Básica e vice-presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE) entre 2012 e 2016. Atuou ainda como secretário de Educação, Cultura e Esportes de São Bernardo (1989–1992) e de Mauá (2001–2003). Nos anos 1990, foi um dos idealizadores do MOVA (Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos), iniciativa apoiada por Paulo Freire e considerada fundamental no enfrentamento ao analfabetismo em São Paulo e no Brasil.
Luiz Roberto Alves também foi pioneiro na defesa de políticas públicas regionais integradas, ideia que contribuiu para a criação do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, em 1990. O órgão, que se tornaria referência nacional em cooperação entre municípios, completa 35 anos em dezembro de 2025.
Na área da infância e juventude, fundou, na década de 1980, o Projeto Meninos e Meninas de Rua de São Bernardo, ao lado da pastora metodista Zeni de Lima Soares. A iniciativa teve papel central no enfrentamento à violência contra jovens no ABC e influenciou políticas e metodologias replicadas em todo o país pelo Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua.
Militante político e social, Luiz Roberto Alves participou da luta contra a ditadura militar e pela redemocratização do Brasil. Foi perseguido pelo regime e viveu alguns anos no exterior, período em que estudou na Universidade de Jerusalém, em Israel. De volta ao Brasil, participou, em 1980, da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT) em São Bernardo, ao lado de Luiz Inácio Lula da Silva e de outras lideranças históricas.
Intelectual prolífico, é autor de livros como Construir currículos, formar pessoas e constituir comunidades educadoras, Trabalho, Cultura e Bem-Comum, Cidades – Identidade e Gestão, ABC Rap: coletânea de poesias rap e Contos e Casos Populares, este com prefácio de Paulo Freire. Sua obra mais recente, lançada em 2023, Administrar Via Cultura, analisa a atuação de Mário de Andrade à frente da Secretaria de Cultura de São Paulo nos anos 1930. Publicou ainda inúmeros artigos no Brasil e no exterior e foi pesquisador visitante nas universidades de Roma e Florença, na Itália.
Mesmo após a aposentadoria, continuou em atividade. “Há mais de dez anos aposentado, meu pai fez questão de seguir lecionando na ECA e atuando no Instituto de Estudos Avançados da USP até seus últimos dias. Recentemente, também foi consultor da Unesco, do Ministério da Educação e do Ministério da Saúde”, afirmou o filho Ariel de Castro Alves, advogado e ativista dos direitos humanos.
Luiz Roberto Alves deixa a esposa, a professora suíça Sabine Linder, os filhos Ariel, Daniel, José Celso e Ana Sara, além do neto Gael. Sua trajetória é lembrada por colegas e alunos como a de um educador comprometido com a transformação social, a democracia e a construção de políticas públicas voltadas ao bem comum.
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